segunda-feira, 28 de junho de 2010

Não sei bem o que dizer sobre mim.
Não me sinto uma mulher como as outras.
Por exemplo, odeio falar sobre crianças, empregadas e liquidações.
Tenho vontade de cometer haraquiri quando me convidam para um chá de fraldas.
E me sinto muito estranha usando um lencinho amarrado no pescoço.
Mas segui todos os mandamentos de uma boa menina:
brinquei de boneca,
tive medo do escuro
Fiquei nervosa com o primeiro beijo.
Quem me vê caminhando na rua, de salto alto e delineador, jura que sou tão feminina quanto as outras:
Ninguém desconfia do meu anti socialismo interno.
Adoro massas cinzentas,
detesto cor-de-rosa.
Penso como um homem, mas sinto como mulher.
Não me considero vítima de nada.
Sou autoritária, teimosa, impulsiva e um verdadeiro desastre costurando.
Peça para eu arrumar uma cama e estrague meu dia.
Vida doméstica é para os gatos.
Tenho um cérebro masculino, como lhe disse,
Já o coração sempre foi gelatinoso, me deixa com as pernas frouxas.
Diante do meu amor ao me convidar para um chopp, é fácil dizer tudo ao contrário do que penso: Nessas horas não sei onde vão parar minhas idéias viris.
Afino a voz, uso cinta-liga, faço strip-tease.
Basta me segurar pela nuca e eu derreto, viro pão com manteiga, sirva-se.
Sou tantas que mal consigo me distinguir.
Sou estrategista, batalhadora, porém traída pela comoção.
Num piscar de olhos fico terna, delicada.
Acho que sou promíscua.
Sou muitas mulheres numa só, e alguns homens também.