segunda-feira, 13 de julho de 2009

O Theatro Municipal e seus 100 anos!


As notícias da inauguração do Teatro Municipal, cujo centenário se celebra nesta terça-feira, são curiosas crônicas de época. O "Correio da Manhã", que se referiu ao prédio como um "monumento nacional", relatou "um verdadeiro sucesso, sucesso este que só se pode comparar com o que está tendo a Casa Colombo com a sua colossal liquidação". O jornal "O Século" fez um leve comentário crítico antes de concluir com um elogio: "Está oficialmente inaugurado o Teatro Municipal, obra em que se gastou muito dinheiro, mas está suntuosamente levantada". O periódico "A Imprensa" adotou um otimismo saudosista: "... o Teatro Municipal avulta num deslumbramento de ouro e mármore, de cristais e vitrais. E, para todos nós, ele, ali está, como uma esperança de melhores dias para a nossa arte dramática, que a incoerência de uns e a má compreensão de outros deixam cair até a degradação do momento atual".
Vê-se que os nossos bisavós já reclamavam que bom mesmo era no tempo dos avós deles. Mas o que todos os jornais tinham em comum era a propensão ao enaltecimento: "A Notícia" e o "Jornal do Commércio" apelidaram o teatro de "monumento suntuoso" e relataram que uma multidão foi admirá-lo, por fora, na noite de abertura, dando passagem aos poucos felizardos convidados para a festa. Um desses foi o escritor Olavo Bilac, que discursou: "Dentro do teatro reside a vida civilizada, tudo quanto ela tem de sério e amável, de forte e de meigo. Dentro dele impera o pensamento. Faltava-te este palácio, cidade amada!".
Nas décadas seguintes, a plateia do Municipal viu diante de si a atriz Gabrielle Réjane, os bailarinos Vaslav Nijinsky e Anna Pavlova, o tenor Enrico Caruso, as sopranos Maria Callas e Renata Tebaldi, o regente Arturo Toscanini, os compositores e maestros Igor Stravinsky e Richard Strauss, os pianistas Arthur Rubinstein e Claudio Arrau e muitos outros mitos capazes de convencer os jovens de hoje que consultarem seus avós de que bom mesmo era no tempo deles.
Viram-se também escândalos. O registro do primeiro é de dois anos após a inauguração, provocado pela peça "Chantecler", de Edmond Rostand. No livro "Memórias e glórias de um teatro", o autor Edgard de Brito Chaves Jr. conta que "foi uma verdadeira revolução quando se viram em cena atores e atrizes representando galos, galinhas, faisões, corujas e cachorros a dialogarem num galinheiro". Aquilo foi um acinte para um público elegante que seguia a alta moda parisiense e tinha especial apreço pela temporada de espetáculos franceses do teatro, cujos programas vinham acompanhados de um frasco de perfume e um saquinho de pó-de-arroz ou um lencinho.
Ao longo dos anos, outras histórias do gênero se somaram a essa, como quando uma soprano sem talento, amante de um ministro, interpretou Mimi na ópera "La bohème" e, ao bater numa porta cenográfica antes de voltar à cena, suscitou um grito da plateia: "Não abram! É aquela cantora horrorosa!".